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terça-feira, 3 de novembro de 2009

IPEA- Uma radiografia do Brasil

Entrevista de Ricardo Paes e Barros concedida à Cássia Almeida (O Globo)

Ricardo Paes e Barros é pesquisador do IPEA( Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada ) e um dos maiores especialistas em desigualdade e pobreza no Brasil.

A queda da desigualdade no mercado de trabalho foi menor este ano. Em 2007, foi de 2,8% e este ano, de 1,7%. O que pode explicar isso?
RICARDO PAES E BARROS: O aumento da ocupação e a queda do desemprego podem ter levado para o mercado de trabalho os mais pobres e os mais jovens com rendimento menor. Isso pode ter feito a desigualdade não cair tanto este ano. O que não é ruim. O que importa mais é a desigualdade entre as famílias.
E essa manteve o mesmo ritmo de queda dos últimos anos, superior a 1%...
PAES E BARROS: É uma sequência de queda impressionante. Nunca tivemos nesse país quedas tão intensas e por tanto tempo. Desde 2001, a desigualdade vem caindo no Brasil. A renda dos mais pobres cresce sete vezes mais rápido do que a renda dos mais ricos. Todos estão ganhando. É o crescimento com equidade. Mesmo com expansão baixa da economia, a desigualdade não deixou de cair todos esses anos.
A pesquisa foi feita em setembro de 2008, quando a crise ainda não tinha chegado aqui e voltará a ser feita este mês, quando a economia já reagiu. A Pnad pode não captar a crise?
PAES E BARROS: É uma possibilidade forte. A crise foi transitória e pode não ter deixado sequelas a longo prazo. Se alguém não soubesse que essa crise existiu, vai olhar os dados da Pnad sem notar. Se isso acontecer, a economia brasileira mostrou uma capacidade de recuperação fantástica.
O trabalho infantil caiu de 10,6% para 10,2% das crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos. Não é uma redução pequena?
PAES E BARROS: Ele continua caindo e de forma acentuada. Se mantiver esse ritmo de queda, em 25 anos, cairemos a um terço o trabalho precoce. As metas do milênio estabelecem para outros indicadores, como pobreza, que se reduza em 50% em 25 anos. Mantemos a tendência de queda acelerada.
A taxa de analfabetismo ficou estagnada em 2008 em 10% da população de 15 anos ou mais, atingindo 14,2 milhões de pessoas.
PAES E BARROS: A taxa de mortalidade dos analfabetos, por serem mais velhos, é maior que a dos alfabetizados. É natural que a taxa decline. É bem complicado, a taxa não ter caído. Isso mostra que o país tem dificuldade de reduzir o analfabetismo adulto. A taxa de 10% é muito alta. É preciso pensar e repensar a política de combate ao analfabetismo.
A escolarização de jovens entre 18 e 24 anos caiu. O que explica isso?
PAES E BARROS: Há o lado bom, que mostra que houve redução no atraso escolar e essa população conseguiu concluir o ensino médio. O mercado de trabalho aquecido atraiu esses jovens. O lado ruim é que eles completam o ensino médio e não conseguem oportunidade para entrar na universidade. Ainda faltando apoio para educação superior. É preciso mais Pró-Uni, que ainda é pouco.
O acesso à rede coletora de esgoto nos domicílios avançou pouco em 2008, atingindo apenas 52% dos lares.
PAES E BARROS: Sinal que as obras do PAC ainda não apareceram na pesquisa. Essa cobertura é ridícula. O saneamento junto com o analfabetismo são os calcanhares de Aquiles desse governo.

Fonte: IPEA

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