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segunda-feira, 22 de março de 2010

Do Blog do Núcleo

É no ouvir que se aprende a falar

O debate é recorrente e não se esgota:
Afinal, os eleitores de Campos dos Goytacazes votam em esquemas eleitorais clientelistas porque é essa a única opção apresentada pelos partidos e seus representantes, ou essa escolha é deliberada como adesão a esses esquemas, em nome de interesses imediatos?


Adicionamos outra questão importante que as forças que se dizem "comprometidas" com a superação do ciclo político denominado "garotismo"(*) terão que enfrentar:


É possível estipular uma agenda política(ou um discurso, como querem alguns)que aponte para a ruptura com essas práticas clientelistas e fisiológicas, alterando o modo de gestão dos recursos públicos, que sensibilize estratos distintos da sociedade, desde seus setores médios até os setores menos favorecidos?


Primeiro é preciso romper um paradigma: Não são apenas os mais pobres que figuram como "clientes" das práticas incorretas de distribuição das ações estatais nesse município.


Tanto as classes médias, e principalmente, as elites, gozam de privilégios em relação ao Erário, que apenas se manifestam de forma diferente, e são recobertos por justificativas ideológicas distintas.


Logo, o camelô em uma praça está afrontando um mesmo conceito de uma "reserva de vaga para esatcionamento" para um jornal, uma rádio, ou uma farmácia, por exemplo: O ônus público(espaço) para o exercício dessas atividades privadas é uma distorção em ambos os casos.


Uma linha de Van e uma linha de ônibus sem licitação de sua concessão idem: Apropriação do serviço público sem regulamentação.


Na outra ponta temos o inchaço da máquina pública versus a terceirização desmedida e o desmonte dessa máquina e das suas carreiras funcionais.


Ainda podemos equiparar os favores conhecidos como políticas de renda mínima, aqui desfigurados pela mediação odiosa de grupos religiosos, dentre outros grupos ligados ao governo, ao contrário do caráter universalista que deveriam ter, com os subsídios generosos fornecidos pelo Fundecam a atividades que se portam como parasitas, que não repercutem nos índices de geração de emprego e renda para além de índices estacionários.


Assim, entendemos que ser "cliente" não é uma característica da "pobreza", e que essa relação se legitima de cima a baixo em nossa estrutura sócio-econômica.


O desafio então, permanece: Como "seduzir" uma sociedade "viciada" que impõe e aceita uma pauta política que se limita a resolver problemas instantâneos, sem nenhuma correlação com o futuro? Como dizer às pessoas: Abram mão do que têm!


Recentemente, aqui nesse blog, alguns em tom de provocação, outros em tom de preocupação, externaram conceitos que resumiam o que dissemos aí em cima.


Como ganhar a eleição, enfrentar os "vícios dos royalties", e "falar" a linguagem da maioria da população?


Esse é o nó da questão.


O debate sobre os royalties já revelou uma boa parte da resposta: Se a riqueza não for distribuída, para, inclusive, gerar mais riqueza, não vai sobrar muito para ninguém!


Mas é preciso traduzir esse conceito.


Não há dúvidas que o ciclo garotinista dá mostras evidentes de cansaço e desgaste. A própria instabilidade institucional que experimentamos desde 2004 é prova acabada desse fato.


O insucesso administrativo dessas últimas gestões, ao contrário de certo sucesso em 1989, com o caos no atendimento público de saúde, fechamento de escolas públicas, transporte público caótico, desvalorização do funcionalismo, e outros erros grosseiros, revela que a base de apoio é mantida cada vez mais aprofundando-se o clientelismo e a propaganda.


Mas nesses nichos de apoio, ainda que submetidos pelo favor, pelo privilégio, já começam a despontar lampejos de insatisfação, dada a gravidade dos problemas que toda a cidade começa a enfrentar, e que o governo não parece dar cabo de resolver.


Cabe ao grupo político que deseja se apresentar como alternativa inovar e provocar debates, aos quais a maioria do sociedade parece impermeável.
Esse é um processo, com etapas, e como tal deve ser encarado, com permanente reavaliação das "rotas", mas principalmente, com a identificação das demandas que queremos atender.


Às Universidades, aos conselhos de classe, aos conselhos comunitários, associações de moradores, ONGs, enfim, a toda sociedade civil organizada, está colocada a missão de saber "para quem falamos e o que devemos falar", aqui entendendo "nós" como as forças partidárias que disputarão os próximos pleitos.


Sem esse sinergia de propósitos, sem a disposição de ouvir, continuaremos a falar para as paredes.


Mas eu não tenho dúvidas que essa cidade começa a experimentar um novo momento em sua história política. A reação de alguns setores é a certeza disso.


(*)-A partir de um conceito elaborado pelo blog Outros Campos, garotismo é o conjunto de práticas de gestão e operação política que extrapolam a figura de seu criador. Baseda no esvaziamento da sociedade civil, aparelhamento da máquina pública, legitimação do favor(privilégio)em detrimento do reconhecimento de direitos. Aprisionamento da mídia. Gerenciamento centralizados e solidariedade política alicerçada na "inquestionável liderança", em detrimento do debate político.


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